segunda-feira, 10 de outubro de 2011

rumble fish revisited v. suburban 3.0

Se fosse realizador, que não sou nem um bocadinho, gostaria de um dia dizer, em grandes parangonas, numa revista do meio especializada (podia ser na Sight and Sound; nos Cahiers não dá porque, putain, o francês ficou num meiinho da bola qualquer no 9º ano), qualquer coisa como: "nunca um género músical como o hip hop instrumental potenciou banda sonoras tão magníficas para o Cinema". (deixemos de lado, de momento, a indefinição do termo "hip hop instrumental", mas, para o caso, oiça-se este senhor)

Primeiro, o entrevistador engasgava-se e ia-se embora, indignado com a minha falta de bom gosto. Depois, eu era aclamado. Depois, criticado. A seguir a isto tudo, fazia um filme muito negro (com negros, e brancos, também, mas nada de blaxploitation) com a música abaixo (da qual não consegui arranjar o instrumental, mas apenas a versão original) e ganhava a Palma de Ouro. A cena de abertura seria mais ou menos assim.
Sem créditos, haveria um travelling horizontal inicial (plano geral), demorado, sobre uma ponte defronte para o espectador. Uma ponte suja, de tons negros, azuis e roxos, com as paredes molestadas por graffitis desinspirados. Corte, novo plano. Novo travelling, mais lento ainda, agora junto ao rio (plano médio), onde se vê, unindo as duas margens, uma frágil estrutura composta por bóias. (daqui em diante, plano-sequência, realista, estilo irmãos Dardenne). Sobre ela, dois rapazinhos, uma menina e um menino, de casacos insuflados e carapuço, voltados da escola, tentando chegar ao lado de lá, onde os esperam o irmão e meia dúzia de amigos deste (movimento de câmara na sua direcção, à medida que os meninos avançam sobre as bóias; campo/contracampo, com a câmara ligeiramente tremida, entre os rostos contrastantes dos meninos e os dos mais velhos), de sorriso afiado e aspecto pouco recomendável, falando alto e brincando com uma velha navalha (close up picado sobre as suas mãos, suas calças e sapatilhas, e sobre o chão, onde espreita uma relva desfalcada e morta).
A cores. Chuviscos e céu escuro. O piano a carregar o ar.




"Cen Cal terrain, soak up game
Where graff writers bomb trains
And poets is smoked out with dope in they veins
Need a toast to the post where we hang
Dialect unmatched
Gotta adapt to the slang that's spoke
A West Coast thing
Out of town niggas get took out the frame
Just for thinkin' every hood's the same
Especially where I'm from
We live by the gun
Put money over bitches, and die over funds
You could lie in the trunk
Or at the blink of an eye get jumped
Can't say we seen it all
But we can say we saw enough
Survive when the times got rough
And the money got low, houses got raided
We was at the park gettin' faded
Not a care in the world"

2 comentários:

Street Fighting Man disse...

descula lá chico, mas para um filme de tons dark é-me difícil melhor banda sonora do que esta: http://www.youtube.com/watch?v=V9Ty3YnWN80&feature=related

Francisco disse...

Naaa... não é esse "dark". :)