quinta-feira, 7 de maio de 2015

Eden



Com EdenHansen-Løve voltou a comover-me como poucos cineastas da sua geração o conseguem. Aliás, tenho para mim que ela será mesmo a cineasta francesa mais importante dessa geração. Sem recorrer a grandes virtuosismos técnicos, Hansen-Løve faz da narrativa e do modo como esta transpira a passagem do tempo o seu grande trunfo, e fá-lo com uma sensibilidade, uma delicadeza notáveis. Pessoalmente, Eden tocou-me, ainda, pelo que de pessoal nele projectei. Não sendo da geração que viveu a explosão do house na década de 90, sou da que ainda o saboreou, com prazer e entusiasmo, nos primeiros anos do novo milénio. Por essa razão, também comprei discos, fui propositadamente a festas e, cheguei, inclusivamente, a ter um informal "colectivo" de DJ com mais dois amigos. Também a certa altura, o house passou a ser uma cena careta e nós, ao contrário do Paul, fomos nas modas e, de etapa em etapa, passamos para o electro (posterior e diferente do electroclash, mas ao qual foi beber), a seguir o minimal (espécie de ascese sonora), depois, ainda, outras minudências conceptuais que adorávamos (por vezes, até mais pelas próprias designações, de peculiares), como o "tech house". Era o tempo - se calhar, ainda é, não sei - do Beatport, de produtores novos em catadupa (e da grande Kompakt) e dos downloads de EP em igual medida. Era o tempo, também, aqui no Porto, da "zona industrial", do Indústria e de mais uns bares-barcos na Ribeira onde se podia ouvir música electrónica. Em 2005, o Anti Pop Music Festival (o nome não fazia sentido nenhum, talvez por isso o tenham alterado no entretanto, embora a nova designação não faça muito mais) fazia de Viana do Castelo a passerelle dos melhores nomes mundiais da electrónica (Vitalic, Kowalski, Michael Mayer, etc.). e eu não pisquei os olhos na hora de ir. Um dos meus amigos pôs mesmo isto tudo em prática e ainda cheguei a ouvir muitos dos sets dele. Depois, foi estudar para Inglaterra, e, volta e meia, ainda apanho no radar notícias de que passa música nesta festa ou naquela. Uns tempos depois, explodia o drum 'n' bass, coisa já com outra ambiência e outro público. O Hard Club (ainda em Gaia), o Swing, o Porto Rio, até a Casa das Artes (!) eram os locais de eleição. 

Vi Eden e (re)vi(vi) uma parte da minha adolescência: a sonoridade tão festivamente característica daquelas festas, a sensação de viver grande parte do tempo "de noite", os DJ cocados (na coca e na fama rápida) sem perceberem no que se estavam a meter (alguns que ainda vou vendo), as namoradas de ocasião e interesseiras sempre à espera das "senhas" (para as bebidas e para outras coisas), etc.. Mas o melhor, em Eden, é que não é preciso ter passado por uma experiência minimamente semelhante para o apreciarmos. Porque Hansen-Løve é uma singular contadora de histórias, que não subestima nem força nada. Também não é um cinema cru. Não sei bem o que é, mas é muito bonito.

Sem comentários: