segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Não há muito a dizer. Entrei no quarto, ele ainda não tinha chegado. A sensação de estar num espaço que não nos pertence e que, nem que seja só por isso, nos fascina: a organização do espaço, a disposição das coisas, a desarrumação, elementos da vida de alguém ali, em repouso, virgens, desprotegidos, silenciosos. Gosto muito de entrar no quarto quando ele não está e ficar por ali uns segundos a observar, a constatar como as nossas vidas se sobrepõem. Aproximei-me da mesa, um caderno aberto na última página escrita, de lado, de alguma forma mal tratado. Antes mesmo de sucumbir à curiosidade, coloquei-o na vertical. Virei uma página para trás. Uns versos rabiscados; em cima "MATILDE" era o título. Tremor imediato na mão direita e, acto contínuo, abro-a e fecho-a para que volte ao normal. Tive que repetir o exercício algumas vezes. Sabe lá ele disto. Sabe lá a Matilde.

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